Seedorf, por Gustavo Smiderle

Recebo por e-mail do amigo, Gustavo Smiderle, o artigo abaixo, que publico por considerar de extrema relevância, afinal o negão está jogando muito. E olha que este texto foi escrito antes da partida de quinta-feira (7) para ser publicado na edição de quarta-feira (6) do Jornal "Folha da Manhã". Se contra o Macaé, Seedorf já tinha feito três gols e dominado uma bola no peito numa cobrança de escanteio do adversário, contra o Resende ele continuou seu show por gramados cariocas, marcando mais um gol, dando passe de calcanhar, passe de peito e caneta.

"Seedorf

Quando disseram, em 2012, que o Botafogo estava tentando contratar o craque holandês Seedorf (natural do Suriname), não levei fé. Quando a transação se concretizou, não imaginei que fosse jogar bola. Quando chegou jogando, qualquer um diria que ele seria um estrelão, superior e desagregador. Quando se mostrou humilde e companheiro dos colegas de profissão e de clube, parecia ilusão. Quando chorou após fazer três gols contra um time modesto como o Macaé, no último domingo, parecia puro marketing. Mas a emoção era real e tinha a ver com a perda recente da sua avó.

Para quem entende de futebol não  há nenhuma surpresa, mas para um peladeiro como eu está tudo felizmente fora do lugar. Para começar, ele ainda tinha avó e parece que se importava com ela. No campo, Seedorf honra a camisa (que, aliás, lhe é superior) jogando o que sabe e se esforçando para proporcionar o melhor a quem gosta do esporte. Seu jogo é uma poesia densa, com poucas palavras e muito significado (mas, mesmo assim, fácil de entender).

Nós, botafoguenses, somos uma torcida carente e necessitada de tratos especiais. Tivemos na era Garrincha, ao lado do Santos de Pelé, um time celebrado na história do futebol mundial, embora aquela turma tenha feito mais currículo para a Seleção do que para o clube. Nunca fomos de idolatrar perna de pau, e, antes que me desmintam, Loco Abreu pode entrar no máximo como exceção, assim mesmo numa concessão à indigência dos últimos tempos. Todo mundo sonha com um jogador inteligente no meio campo, e este artigo anda bastante raro por aí.

Mas veio o holandês do Suriname fazendo belas jogadas, marcando gols e devolvendo a autoestima à torcida. Dizem que ele já sabe o que fazer antes de a bola chegar, mas acho que não; acho que os craques decidem tudo na hora, surpreendendo a si mesmos, o que só é possível a um atleta extremamente inteligente e com privilegiada condição física. Do contrário, boas jogadas individuais poderiam ser obtidas na base de um planejamento burocrático.  

Sou grato a Deus e à vida por ver jogar no meio campo que já teve Didi, Gerson e outros que não cheguei a ver um talento cheio de humanidade como Seedorf. Seu trato com a bola e com as pessoas tem um toque admirável de autenticidade."

Escrito por Gustavo Smiderle e postado por Wesley Machado.